Analise de Estruturas – O último Samurai

01/12/2012 19:22

 Como na maioria dos filmes de guerra, há em O Último Samurai mais de um herói.

 

            E neste caso há dois heróis centrais. Katsumoto, o honrado líder dos samurai e o Capitão Americano, Nathan Algreen.  A relação entre eles, a forma como eles se encaram e trocam de papéis entre si, é o derradeiro ponto de apoio de “O Último Samurai”, é aquilo que torna o filme algo digno de aplausos, e que o engrandece de varias maneiras.

            A apresentação de Katsumoto é abstrata, feita logo na primeira cena do filme, que é algo como um sonho premonitivo em meio à meditação do Samurai. O sonho, que serve como motivador para o momento em que Katsumoto tem de decidir matar ou não seu adversário, somado com a breve narração serve apenas para fixar à platéia o tema do filme: Honra.

            Já a apresentação de Algreen é mais lenta, é feita em 3 cenas.

            Em sua primeira aparição, Algreen está fazendo uma performace para a Winchester Company, vendendo seu rifle a uma platéia de clientes. Ele é apresentado aos clientes como um “verdadeiro herói americano”, alguém digno de credibilidade, porém Algreen está tão bêbado que é despedido antes mesmo do show.  Seu desdém pelo trabalho atual revela seu descontentamento e a maneira com que fala dos mortos mostra que Algreen é um homem mutilado pelos traumas da guerra.  Mesmo bêbado, o herói faz questão de dar aos clientes da Winchester Company um vislumbre de suas habilidades, realizando alguns perigosos disparos contra a própria platéia! 

           

Há uma breve simbologia nesta cena, Nathan está vendendo um rifle – um sinônimo da modernidade – mas o faz a contragosto. Veremos mais adiante que neste momento histórico o Japão também está se modernizando, e de certa forma, também a contragosto.

            Na 2ª cena ele é convidado por um velho amigo para uma proposta de negócios.  A cena em si, é um jantar com seu futuro empregador, onde ele recebe e aceita a proposta de ir trabalhar no Japão, para treinar o exército japonês contra alguns rebeldes que “ameaçam” a hegemonia do governo. Este Jantar, porém tem muito mais a revelar do que aquilo que é dito.

1        – Ao ser apresentado ao Sr. Omura, Nathan diz que trabalha para a Winchester Company, mesmo tendo acabado de ser demitido. Tal atitude revela que ele sabe jogar e blefar muito bem.

2        – A cena apresenta os dois verdadeiros vilões, sob o manto de benfeitores e aliados: o Sr. Omura e o antigo superior de Nathan, o Coronel Bagley.

3        – Nathan tem de ser convencido por seu velho amigo a ouvir a proposta, pois sua primeira reação ao ver Bagley é uma forte antipatia pelo Coronel.

            Ao final desta cena Algreen tem uma breve conversa com Bagley, na qual ele atesta “por 500 pratas por mês eu matarei quem você quiser, mas tenha em mente que você, eu mataria, com prazer, de graça!”. Esta cena não só é muito boa, mas me faz pensar que não há maneira mais simples de se colocar um homem dizendo que odeia o outro.

             A 3ª cena de Algreen já o mostra a caminho do Japão. Ele inicia ali uma narrativa em forma de diário, onde menciona muito de suas dúvidas e problemas: “matar lideres tribais é aparentemente o único trabalho para o qual eu sirvo” – diz ele. O livro-diário que Nathan escreve também passa a ser um objeto chave para o desenrolar da futura relação entre Nathan e Katsumoto. Nesta cena temos ainda a confirmação dos motivos da infelicidade do herói:  as batalhas e massacres que testemunhou o atormentam sempre. E são mostrados ao publico em forma de pesadelos.

            Sua chegada ao Japão é a apresentação do “Mundo especial” ao herói e a próxima cena, o primeiro confronto com o Imperador, também confirma que o herói já esta construído e bem apresentado. A escolha do diretor, entretanto, é de ir mais fundo na construção do personagem e ele acerta grandemente ao fazê-lo. É interessante ver Algreen treinando o exército do Imperador  no modo americano de guerrear. Ele começa a aprender sobre os Samurai que até este momento tinham sido apenas mencionados como os vilões. Nestas cenas o personagem está tão focado no seu trabalho que quase esquece dos seus traumas.

            Depois disso há uma cena aparentemente descontraída, onde por um descuido Nathan é forçado a relembrar da guerra contra os índios. Nesse momento  a platéia tem confirmado o que ela já desconfia: Os horrores da guerra já tiraram o melhor que havia de Algreen , inclusive sua tolerância, “ Não ligo a mínima para os Samurai, só quero conhecer meu inimigo”. Mas talvez a cena não seja tão desnecessária, pois ela abre para um flashback que responde a uma pergunta importante: Por que Nathan odeia tanto o Coronel Bagley? Ora, só porque o coronel ordenou um ataque a uma aldeia cheia de mulheres e crianças indefesas, e divertiu-se no processo de dar cabo do massacre.

            O herói em questão, ainda vai passar por muito do seu crescimento. Principalmente no 2º ato do filme, quando é preso e começa a conviver com os Samurai. E que fique claro, de todos os filmes que já assisti, “O Último Samurai” tem um dos melhores crescimentos de um herói. Seu arco é ao mesmo tempo intimista e cheio de estilo: Ele vai de Ex-militar destruído para um mercenário em terras estrangeiras, depois para prisioneiro de guerra, aprendiz teimoso e relutante, e por fim, um novo homem – um guerreiro Samurai, renascido, feliz e com um propósito nobre e digno que é defender seu lar!

            Mas como crescimento de personagem é outro tópico de nossa Analise de estruturas, guardo minha analise do resto do filme para uma outra hora.